sábado, 21 de abril de 2012

Na boca do Mundo !
Corre pela boca do mundo
Esse burburinho
Esse som tão mudo
Sem tempo para dizer
O que fazer
Para pôr a ouvir um surdo
Um cego a ver
Dar voz ao mudo
Que diferente do cego consegue ver
E sabe ver
 
 

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Avô - As nossas conversas - Abril a Setembro de 2011




Calma avô. 
Não canses esse sorriso meigo e essa expressão tão doce.
Não canses essa voz que já percorreu tantas missões como se fosse
A escolhida para nos ensinar. 

Avô, não digas nada. 
Aperta-me só a mão quando precisares ! 
Não fales avô, não vale a pena. 
Sorri só e dá-me força para continuar a acreditar nestes dias, em que o sufoco se vai embora e te deixa assim. Livre, livre como um anjo. 
Vai tudo ficar bem avô, eu prometo. 
E se for preciso, movo tal injustiça num grito .. E dou-te metade de mim. 
Nem que vá daqui a Marte, encontrar essa cura e salvar-te. 
Vou livrar-te da aflição .. Pedir por tudo, a todos os Deuses dos Deuses. 
Diz-me, como consegues ser assim? 
Tão puro, tão seguro. Tão lindo e poderoso. Tão bom, tão valioso. 
E sem tempo para adormecer, nunca ninguém te irá esquecer. 
Porque não te vou deixar morrer. 
Porque preciso de ti comigo. 
Porque és o nosso melhor-amigo. 
Tenho tanto para te mostrar. 
E tal como me pediste não vou chorar .. 
Mas custa tanto seguir em frente, sem ti. 
Que me visses aqui agora, gostava nesta hora de olhar para esse teu sorriso e assim só te abraçar. 
Querer voltar a dar-te a mão, a te sentar no sofá e ligar aquela televisão. Vermos os dois pela tarde fora .. Esperar pela avó, de hora em hora. 
E pedir a eternidade ! 
Queria de novo olhar para a janela e contar-te as histórias que vivem fora dela. Mas mais que isso, queria que fosses tu a conta-las. 
Que se apagasse aquele ano velho que te fez sofrer. 
Nunca avô, nunca vais morrer ! 
Não digas que és um peso, porque isso não é verdade. 
Estar contigo é o paraíso, ter-te por perto e ouvir esse teu riso. 
É paz, é frescura. Adormecer junto a ti é obra pura. 
É um cantinho tão bem aconchegado .. Saber que amaste e foste amado. 
Fecha os olhos e descansa .. 
Estarei aqui quando acordares. 
Sentada ao teu lado a vigiar esse teu sono cansado. 
Ficarei sempre aqui contigo. 
Sei que te faz feliz a minha companhia .. 
E ter-te por perto só me alivia ! 
Sabes avô, é tão bom pensar em ti ! 
Descansa. Agora é a tua vez de ser criança ! 
Quero ser eu a olhar por ti. 
Quero beijar essa tua face serena. 
Como me fazias a mim em pequena. 
Proteger-te dessa maldita doença. 
Avô, eu tomo conta de ti ! 
E não te preocupes com nada. Fecha os olhos avô, descansa !
Queria viver só mais uma vez nesse teu esconderijo perfeito. Dar conta de ti, e esconder-me assim nesse lugar desfeito. Contar-te uma história, no esplendor da glória, de palavras tão puras. Dizer-te que és versos, que vives na memória, versos de ternura. Mostrar-te que foste a história. Tão sábia, tão linda, tão miraculosa. E lá em cima bem suave, és um anjo de verdade.



Acredita comigo num amanhã
Porque eu nunca quero deixar de acreditar.
Acredita que de olhos fechados consegues ver tanto, pouco ou mais
Daquilo que te tenho para mostrar ..
Acredita que a sensação mais sensível é aquela que sente
E que tem que sentir ..
Acredita no amanhã e faz-me sorrir !