domingo, 19 de fevereiro de 2012

Talvez um dia ...

Um dia
Por força das circunstâncias
Eu irei voltar a ver-te
Viveremos juntos tais lembranças
Sem medo.
Um dia
Por obra do destino
Eu correrei pelo teu caminho
E tu vais voltar a ver-me
Vais dizer para ter cuidado
Estaremos lado a lado
A recordar o futuro de ontem.
Um dia
Por força das condições
Não sobrarão opiniões
Estarás sempre à minha espera
A olhar para o tempo que era
Antes de eu nascer.
Um dia
Por glória dos pontos finais
Seremos recordados por sermos iguais
E tu vais sorrir para mim.
Um dia
Vou juntar música ao poema
Dar vida a este esquema
Que será apenas lido.
Um dia
Quando não houver voz capaz de o sentir
Vou pedir para me repetir
Os pontos e os travessões
Os dias e os serões
As almas e as gentes
Os todos iguais e os poucos diferentes.
Um dia
Quando tiver cumprido tudo isto
Vou adormecer quando for noite na rua
Olhar para o céu e esperar que a lua
Olhe para mim só mais uma vez
Antes que o dia a faça ir embora
Eu irei com ela
Hora a hora.
Um dia
Vou pôr ritmo a este percurso
Dramatizar o momento num belo discurso
E dizer tudo o que não escrevi.
Um dia
Vou ser eu a bibliografia
Cheia de páginas em branco
Aquelas que ainda estão por escrever
Aquelas que todos vão poder ler
..

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Tenho tantas saudades tuas ..

É horrível como esses momentos chegam de novo à minha cabeça.
Surgem de uma forma tão nítida, tão real
Que eu chego a viver todo o mal
Que outrora vivi.
E não consigo fazer nada
Fico deitada à espera que passe
E nesse período em que não passa
Vivo aquilo que vivi
Vejo aquilo que ontem vi
Sinto o que já senti
E vejo-o de novo ir embora
Com a mesma dor cansada
E aquela expressão sufocada
Que não me deixa dormir.
Porque não quero voltar a vê-lo ir.
Dói um tanto ou quanto, dói tanto
Vê-lo ir embora
Não o poder ter comigo agora
Saber que jamais irá voltar a acontecer.
Dói muito voltar a vê-lo morrer.
E ter medo de fechar os olhos
Mesmo que não passe tudo isto
de um sonho.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Posso escrever sem ter um tema ou uma finalidade…
Se calhar quando escrevo as minhas palavras têm um destino mais completo e abrangente.
Porque ao escrever, desenho cada traço de um interior.
Aquilo que não se vê é agora visível aos olhos de quem lê!

Heterónimo invulgar !

Sinto-me abandonada pela multidão,
Faço a vontade de um todo presente.
Com poucos motivos eu esclareço a razão.
Agora o poeta escreve, mas já não sente.
Deixaram-me as palavras e todos vós,
Forma anos passados .. Pedia muitos mais.
Foram-se os livros que outrora li,
Sorrisos, imagens e recortes de jornais.
Pintam-se as facetas de outra cor,
Dizem que não há motivo nem razão.
Para esconder que o que sentem é dor,
Quando lhes perguntam: “O que conta o coração?”
São portanto fingimentos,
De todos os actores principais.
Que preferem palavras a sentimentos,
Que omitem papéis e nada mais.
Vou-me intrigando por entre a sociedade,
Permanecendo atenta e reticente.
Caminhando de mão dada à saudade,
Não sou especial, apenas diferente.

De mala ás costas !

Se a cidade parasse pra pensar,
Naqueles que acolhe, que lá vão parar.
Não seriam por certo tantas almas assim.
Não falo dos outros nem os outros de mim.
Se as ruas ouvissem cada olhar indignado,
Cada passo sem fôlego, apressado..
As paredes vêm velhas aqueles jardins,
Não falo dos outros nem os outros de mim.
Cruzam-se vidas, correm tantas vidinhas,
De ouvidos tapados passam por aquelas ruinhas.
Não se conhecem mas passam assim.
Porque não falo dos outros nem os outros de mim.
Cheiram a rotina e até desorganização.
Porque são um núcleo disperso de vozes separadas .. E tanta confusão.
Seguem caminhos diferentes,
Uns não, outros sim.
Não falo dos outros nem os outros de mim.
Não dorme, não mente.
Quer abraçar cada vida que amanheça bem contente.
É tanta vida. Eles são assim.
Nunca falo dos outros nem os outros falam de mim.

Jogo de palavras perdidas !

Fechei os olhos e compreendi.
De repente, inconscientemente compreendi qualquer coisa.
De ti, senti qualquer lágrima, mesmo estando de olhos fechados.
Senti a tua voz, mesmo não te estando a ouvir.
Senti a tua presença, mesmo estando longe.
Senti o teu abraço, mesmo não te tocando.
Senti aquele medo, mesmo ignorando a sua causa.
Senti a tua tristeza, mesmo parecendo feliz.
Senti o teu sorriso, mesmo sabendo que querias chorar.
Senti os teus gestos, mesmo estando de costas voltadas.
Senti a tua dor, mesmo não tendo passado pelo mesmo.
Senti as tuas reacções, mesmo reagindo de forma diferente.
Senti os teus desabafos e chorei com a mesma intensidade.
Senti a tua insegurança, mesmo me fazendo de forte.
Senti que eras tu, apesar de qualquer distância.
Senti o teu cansaço, mesmo tendo acabado de acordar.
Senti a tua frustração, mesmo quando permaneci fiel à tranquilidade.
Senti as tuas palavras, mesmo não te querendo entender.
Senti os teus pensamentos, mesmo não fazendo parte deles.
Senti a tua solidão, mesmo estando rodeada de gente.
Senti as tuas expressões faciais, mesmo não estando a olhar para ti e caí consciente.
Só não senti o teu adeus, quando voltas-te.

Boatos de rua !

Está lindo
Está bem feito
E tem jeito
De ser especial.
Mas está tão bonito
Que eu nem acredito.
As palavras certas, bem espertas
Não tem nada de mal.
Realmente
És bem diferente
Que eu nem encontro explicação.
Serás mesmo assim
Ou duvidas de mim
És tesourinho guardado em qualquer coração.
És ideia
Mulher feita
Deves arriscar.
Porque somente em ti guardo
Palavra bem firme, presente e passado.
Escrever é desabafar !

Num mundo ao lado !

Esperem por mim do lado de fora,
Porque aqui dentro já não tenho lugar.
Pouso a caneta e vou embora,
Agora que sei que não posso ficar.
Anoiteceu.
Ficou frio e corre vento.
Deixo o meu nome no fim.
Para trás fica tanta coisa,
Tanta coisa de mim.
Agora é mais forte o poder das origens.
Torna-se pequenina a minha vontade de voar.
Pouso a caneta e vou embora,
Agora que sei que não posso ficar.

Figurante num monólogo !

Quero ser a vírgula que falta nos textos incompreendidos.
Ou até o marcador de um livro qualquer deixado ao acaso.
Quero ser a capa e a contra-capa de uma longa edição.
Quero ser o ponto e o travessão.
Quero ser personagem principal de banda-desenhada.
Quero protagonizar os capítulos de atracção espontânea.
Quero ser levada na memória!
Porque hoje apeteceu-me ser livro ou meras páginas de revista.
Deu-me vontade de alguém repetir as palavras que escrevo!

Melodias !

Não há guitarra que toque novamente essa melodia.
Deixa de a ouvir ainda que doa.
Deixa de a querer ouvir. Ouve outra !
Mas não te vás embora.
Espera sentada e anda agora
Vem ouvir só mais uma vez
Aquela melodia que a guitarra fez.
Ou preferes seguir em frente …
Ouve-a calmamente.
Espera-lhe pelo sinal
Ouve-a ! Não tem nada de mal.
Porque foi a primeira
Queira a guitarra ou não queira
Não haverá outra igual
Ouve-a ! Não tem nada de mal.
E sente
Que de repente, te deixa assim.
Sentada na cadeira
Será perto do fim …
Que a última nota soará à primeira.
Porque sem eira nem beira
Vais pedir para a ouvir
Ainda que doa.

Insatisfação !

Não, não tenho nada.
A vontade é escassa e o desejo tão pouco.
Sou só refém deste elogio,
Que me faz escrever aquilo que ouço.
Não, não tenho nada.
Só metade de uma folha e um pedaço de sabedoria.
Que me fazem desenhar as mais belas palavras,
Nessa folha eu faço poesia.
Não, não tenho nada.
Se bem que a imaginação tantas vezes me acompanha.
Sabe dar resposta a qualquer pergunta,
Que alimenta esta minha ambição tamanha.
Não, não tenho nada.
Só uma mão de areia e o pó da estrada.
Dá para isto e para aquilo.
Tenho um pouco de tudo e um tudo de nada.

Deixa-me assim !

Deixa-me cantar-te ao ouvido uma música de embalar
E fazer-te sonhar.
Nestes dias de pouca cor,
Embalar-te com jeitinho,
Bem devagar, com carinho,
E ver-te dormir.
Deixa-me adormecer esses olhos puros,
Que são como muros,
Transparentes, tão verdadeiros,
Dois guerreiros nesta noite.
Deixa-me ser eu a contar-te a história,
Gravar-te na minha memória,
Sem medo do amanhã.
Porque até lá,
Deixa-me deitar ao teu lado,
Cairmos num sono inesperado
E ver o dia amanhecer,
Sem medo de morrer,
Encostar-me no teu ombro,
Mergulharmos juntos num sonho.
E de novo ganhando jeito,
Adormecer nesse teu peito.
Ou de sentir que foi imaginação.
Talvez sim ou talvez não.